domingo, fevereiro 26, 2006

Chicago's Skyline

Cheguei sensivelmente há um mês a Chicago e confesso não ter sentido o tempo passar...está tudo a ser demasiado rápido, demasiado novo, demasiado bom. Esta repentina dose de felicidade que tento sofregamente digerir de maneira mais ou menos hedonista, tem-me feito levitar um pouco da Gastarina do pequeno burgo português. Perdi propositadamente a identidade e deixei-me cair graciosamente no anonimato. À minha volta milhares de americanos de diferentes etnias circulam nas mesmas ruas onde me misturo com as suas rotinas. Observo atentamente os seus hábitos, os seus gestos e a forma eloquente como contam uma história banal ao vizinho com quem se cruzam no elevador ou à pessoa de trás na caixa do supermercado. A observação dos pormenores quotidianos deste povo tem sido muito mais surpreendente do que alguma vez imaginaria e faz-me questionar a cultura ocidental como um todo. É certo que em linhas gerais há de facto coisas que nos aproximam enquanto povos, mas desta micro-análise sociológica "corriqueira" que o meu dia-a-dia me proporciona, retiro comportamentos e abordagens que uma portuguesa recém-chegada como eu tem dificuldade em entender e em explicar. Somos gémeos falsos disso tenho a certeza e à medida que me vou entranhando no american lifestyle é-me cada vez mais claro o profundo desconhecimento que nós, europeus, temos acerca dos conterrâneos do Al Capone.
Evanston, a cidade onde resido actualmente, é visualmente muito agradável pelos seus edifícios baixos rodeados de árvores, esquilos tendo o lago Michigan como pano de fundo. A vida de Evanston gira à volta da universidade tal como a de Coimbra e o ambiente universitário enche de juventude os cafés e os bares do centro.O comércio desta pequena cidade de 70.000 habitantes distribui-se por grandes superfícies comerciais ao longo da periferia preparadas para receber milhares de visitantes tanto em espaço como em oferta quase inesgotável de produtos . Sente-se que a economia flui de forma espontânea, bombeada pela atitude pro-activa dos hábeis vendedores e pelo consumo desenfreado da população em geral. Não existem vendedores com ar de frete atrás de um qualquer balcão. Primeiro porque provavelmente seriam despedidos e depois porque os salários variam de acordo com os resultados obtidos. A incerteza no futuro que pode facilmente derrapar na indigência assegura o profissionalismo necessário à vitalidade da economia e à renovação contínua do tecido empresarial.
A grande Chicago com 9,3 milhões de habitantes, é um grande puzzle composto por cerca de 130 cidades como Evanston ou maiores (incluindo Chicago) numa área de aproximadamente 23000 Km2 (cerca de 1/4 da área de Portugal ou ainda correspondente ao somatório das áreas de Viseu, Guarda, Bragança e Vila Real). É fascinante o turbilhão de vida à minha volta e a interacção dos actores sociais que coabitam este espaço. Um espaço multi-racial com diferenças sociais por vezes extremas e que resultam da performance de cada um nesta enorme teia indiferente aos dramas individuais. Aqui, mais do que em outro sítio qualquer, o mundo não pára e não espera por ninguém...