sexta-feira, novembro 25, 2005

HAPPY BLUE!
















Finalmente decifrado o mistério...era mesmo o António quem esperneava com tanta vontade como se quisesse dizer:"hey!!estou aqui!!!não me sentes?".Desde a última vez que o vi, ainda com 14 semanas cresceu imenso!!Actualmente mede cerca de 15 cm (da cabeça ao rabiosque), pesa 240 gramas e já não cabe todo no ultra-som.
Fico abismada com a minha proximidade com o bébé fruto da enorme quantidade de informação que já detenho. O que sabia a minha mãe de mim em 1974?Sabia que estava viva porque me agitava, que iria nascer em Maio e esteve iludida até ao último minuto de que seria um rapaz. Nada sabia e como tal não tinha metade das preocupações!O contacto que nos dá prazer e enche de alegria também nos causa alguma ansiedade. Queremos um report quase minuto a minuto e tentamos interpretar cada sinal que nos chega de dentro. Fazemos buscas na Internet nos inúmeros sites dedicados ao tema e que nos ensinam a alimentar, a escolher bem o nome, a parir, a educar o bébé, a preparar o pai e a vencer a depressão pós-parto.É a verdadeira standardização de emoções pessoais, intimas e únicas! Estamos também restringidas a milhares de pequenas coisas que anteriormente fariam as nossas delícias mas que podem ser maléficas para o pequenino. Abdico delas sem qualquer problema mas confesso q a que mais me custa é não poder afagar o Gastão!Pobrezinho não percebe a minha indiferença às suas manifestações de carinho...
Por último, a grávida moderna ainda se deve preocupar com a linha, já não há desculpa para belos repastos!As calorias necessárias e os elementos nutritivos adequados estão devidamente identificados em tabelas científicas para que não haja deslizes!O que é feito dos desejos excêntricos das grávidas às duas da manhã?Pois... até esse mimo foi desmistificado pela ciência!Haja pachorra!
Estarei à altura dos requisitos anunciados pelos livros e revistas da especialidade?
Não tenho nenhum curso superior em maternidade e não sou expert na matéria, apenas tenho este instinto primário que não me larga e que me deixa deslumbrada com quem aí vem!Bem-vindo baby boy!!!

terça-feira, novembro 22, 2005

Já mexe!!!


6:35 da manhã...acordo com um movimento dentro do abdómen muito suave mas agitado o suficiente para que não me restem quaisquer dúvidas!só pode ser ele(a)...esboço um sorriso cúmplice e deixo-me estar quietinha a aproveitar o momento.Foi o nosso primeiro encontro!!!Não o(a) imagino por enquanto, apenas sei que tem genica e isso basta-me!Levantei-me excitada e fui dar a notícia ao pai ainda a terminar o serão.Rimos juntos e deitei-me de novo sem conseguir adormecer atenta a novos sinais. Foi a insónia mais divertida que tive, nem sabia que tal seria possível!!!
Hoje vamos nadar juntos(as) pela primeira vez e amanhã vou à maternidade para saber se quem me bate à porta é a Maria Carolina ou o António Maria.Até lá então!!!

quinta-feira, novembro 10, 2005

Espíritos elevados



Na passada semana tive a oportunidade de ver uma belíssima exposição de pintura de finais do século XIX e todo o século XX no Instituto de Arte de Chicago. Impressionismo, Expressionismo, Naturalismo, Modernismo, Dadaísmo, Cubismo, Surrealismo e os demais "ismos" das artes plásticas estavam magníficamente representados através das obras dos Mestres das referidas correntes. Fiquei surpreendida com a dimensão e importância deste espólio detido pelos americanos e vi-me diante de muitos dos quadros que conhecia tão bem dos livros de arte do meu pai e que sempre tive curiosidade de folhear. Saboreei então o mundo no último século e meio através dos olhos destes artistas...é como ter um binóculo mágico que nos permite olhar a história, o mundo e a vida com uma elevação que nos enriquece subitamente a alma e que nos alerta para as nossas próprias limitações. Todos eles foram pioneiros no seu tempo.Encontraram forma de expressar a sua humanidade e de projectar ideias e sentimentos em objectos figuras e paisagens que nos são familiares e que por isso compreendemos. Mesmo a bizarria do surrealismo parece-me bastante natural!É este o poder da arte, transmitir-nos mensagens de forma genial,com as quais nos identificamos sem que haja de facto uma lógica linear por detrás dessas construções.
Mas, o que é o mundo e a existência de vida senão a mais suprema das artes?A complexa teia de vidas orgânicas, de volumetrias, de emotividades, de acontecimentos, de tempo e espaço que nos circunda é de facto matéria - prima em bruto para esses olhos diferentes!
A criação do nosso próprio universo artístico, ainda que não sejamos iluminados como esses Senhores, é a garantia da nossa individualidade e da nossa dignidade enquanto seres "pensantes". O verdadeiro problema é conseguir ver para além do aborrecido, para além do nosso próprio umbigo.Falta de curiosidade acredito, e não tanto de capacidade...
Estou a ler o Diário de Anais Nin. O mundo aos olhos de uma mulher, escritora, poetisa e pioneira do seu tempo que se aventura no universo cru e rude de Henry Miller. O mesmo mundo, a mesma época, olhares diferentes...e ainda o meu, quase um século à frente e em muitas coisas atrás...

segunda-feira, outubro 24, 2005

A incrível Malásia



Após um mês de ausência volto para conseguir completar o propósito que me fez criar este meu cantinho na web...prosseguir com o relato da minha lua-de-mel para que daqui a uns anos me sirva de cábula quando a memória já não me ajudar...
Por esta altura teremos chegado ao ponto alto da viagem. Depois de mil aventuras e desventuras, tempestades tropicais e visitas às profundezas do oceano,após experimentarmos a vida numa metrópole asiática e de termos voado já inúmeras vezes durante apenas duas semanas, ainda não tinhamos sentido que estávamos em lua-de-mel. Era tal o espanto com a novidade que não conseguiamos deixar de absorver toda aquela informação e cadência rápida de acontecimentos. A adrenalina libertada no processo e os espíritos frenéticamente agitados não se enquadravam na imagem de amor e uma cabana num paraíso perdido que imaginamos para uma lua-de-mel.
A Malásia proporcionou-nos o cenário idílico que procurávamos. A ilha de Langkawi era absolutamente perfeita!A selva densa ocupara os terrenos até ao mar e em alguns pontos havia imagens tão belas como árvores "soltas" na água verde esmeralda.
Passámos 5 dias numa praia exclusiva do hotel "Datai". Uma baía imaculada rodeada por selva e animais selvagens. Diariamente observava águias e pássaros exóticos no céu,lagartos gigantes no meio da vegetação e macacos a passear em bando pela praia.Os pequenos caranguejos faziam rendilhados com as patas transformando a areia numa gigante e elegante carpete.
No mar, ao fundo no horizonte, a misteriosa Tailândia. Nunca tinha visto nada tão belo e acredito seriamente nas propriedades terapêuticas daquele paraíso para curar os males do mundo ocidental. O convívio com o belo, com a natureza em todo o seu esplendor faz sobressair o que de melhor há em nós: os gestos ficam mais suaves, as palavras mais doces,o sorriso mais franco. O poder da pureza das plantas, dos bichos e do mar elevaram-me a um estado de transe quase hipnótico fazendo-me festejar o amor naif, puro e simples. Certo dia choveu muito enquanto estávamos na praia. Todos os presentes recolheram os pertences e abrigaram-se onde puderam, nós escolhemos o mar. Um casal de idosos seguiu-nos com um sorriso de orelha a orelha, felizes e sem receio mostrando que o amor é intemporal...

sexta-feira, setembro 23, 2005

A cidade formigueiro


A passagem por HK foi curta e debaixo de chuva. O mau tempo desencorajou-nos de fazer o chamado turismo convencional.Em alternativa optámos por uns passeios calmos mais ou menos sem rumo e por fazer umas comprinhas tecnológicas. Achei HK visualmente impressionante pela sua arquitectura em altura de design arrojado e pela sua enorme densidade populacional. Aquele cenário imponente de betão e vidros espelhados alberga cerca de 8,2 milhões de habitantes numa área correspondente a 1102 km²!!
O frenético formigueiro humano que enche as ruas da cidade movimenta-se à "velocidade da luz" para produzir e consumir um leque diversificado de bens assegurando a vitalidade da economia implantada e administrada pelos ingleses até 1997. O comércio é riquíssimo, especialmente no segmento das novas tecnologias, e a prosperidade económica transformou HK em terreno fértil para todas as marcas de luxo internacionais.À noite a cidade duplica o seu encanto. A força visual dos neons cria um ambiente festivo nas ruas ainda cheias de gente e o ritmo parece não abrandar. Culturalmente a metrópole recebe influências dos quatro cantos do mundo o que resulta numa mistura exótica sofisticada.
A observação do modus vivendus dos residentes foi suficiente para que compreendesse a razão pela qual se fala na China como a potência hegemónica do futuro. A cultura de trabalho é fascinante e totalmente direccionada para o mercado aberto e competitivo, o tecido empresarial renova-se continuamente abrindo brechas para o aparecimento de novas empresas prósperas e inovadoras. Tudo parece funcionar eficazmente... sem pausas!
Infelizmente também compreendi que por enquanto, qualquer semelhança entre Portugal e Hong Kong é pura coicidência...para mal da economia nacional!

quinta-feira, setembro 22, 2005

segunda-feira, setembro 19, 2005

Monsieur Le Chat


















Serve este post para homenagear O Senhor do Blog...

Chama-se Gastão e é um gato de sorte...

Encontrei-o certa noite de Verão a dormir muito bem instalado no canapé da sala-de -visitas da minha mãe. Apesar de ao início ter tentado convidá-lo a sair por considerar impróprio receber visitas a meio da noite, este senhor não se deixou convencer, continuando a visitar-nos com regularidade. De visita, depressa passou a hóspede com direito a "cama e roupa lavada" sendo actualmente um distinto membro da nossa família.
É certo que é um pouco louco e que trazia maus hábitos da rua...fez desaparecer duas ou três postas de bacalhau o q lhe valeu umas valentes vassouradas durante a fuga e destruiu todos os bolbos de orquídeas plantados em vasos na varanda, tendo por isso más relações com a Conceição, que tenta em vão, ter o controle de todos os bens alimentares em circulação na cozinha...Certo dia decidiu mostrar a sua gratidão e exibir os seus dotes de caçador. Trouxe-nos de presente nem mais nem menos do que um rechonchudo rato cinzento que caçou durante as suas emboscadas felinas. Ficou surpreso por ver a Conceição aos gritos quando confundiu o troféu abandonado na carpete com um qualquer objecto não identificado para arrumar e só percebeu o engano quando olhou para a palma da mão!
À parte desta costela de enfant terrible o Gastão é um excelente gato dotado de qualidades e de uma personalidade sui generis!
Sempre fiel ao seu smoking que nunca tira em ocasião alguma, tem um cuidado extremo com a aparência dedicando parte da sua rotina quotidiana a tratar da imagem. Gosta de se passear elegantemente pelas vastas propriedades que conquistou e que começam no quintal do prédio estendendo-se aos jardins das casas vizinhas. Já o vi a travar lutas com intrusos e a defender o seu território com unhas e dentes!Sempre atento a movimentos estranhos no terreno coloca-se muitas vezes de plantão em pontos estratégicos, geralmente altos para conseguir um melhor ângulo de visão.
Nunca dispensa o seu passeio higiénico depois de jantar e muitas vezes chega a casa lá pelas 4 da manhã! É um boémio inveterado... A sua vida secreta e os seus casos amorosos por certo dariam um filme, mas com este gato, tenho apenas o privilégio de privar a horas normais e durante a sua estadia na casa.
Com o tempo tornou-se um companheiro extraordinário: meigo e dedicado, cheio de cortesia. Aprendeu a arte da sedução e sabe usá-la como ninguém, especialmente quando quer um petisco novo ou a atenção da casa. Só bebe água por uma certa taça vermelha e tem o seu lugar cativo na poltrona da sala ao serão.É um gato requintado!
Viciou-me na sua saudável loucura, na sua alegria e vontade própria tendo por isso conquistado um lugar de respeito neste blog. Quem tem medo do Gastão mau?

terça-feira, setembro 13, 2005

Um mergulho em Boracay!






















De volta à melhor viagem da minha vida....

Chegamos a Boracay com expectativas elevadissimas!Depois da conturbada passagem por Manila ansiavamos por actividades tão exigentes como contar barcos no horizonte e respirar em simultâneo...A ilha não nos decepcionou! As águas transparentes e a verdura densa de perder vista inspiravam grandes sestas debaixo de uma qualquer palmeira...
Chegámos num pequeno barco a uma enseada cheia de locais que nos receberam sorridentes e prestáveis. Durante aquela calorosa recepção poderiamos parecer o Dr. Jones e a sua loira companheira de viagem em busca de mais qualquer aventura perdida, mas as mercadorias debaixo dos braços dos indígenas fizeram desconfiar a nossa mais profunda igenuidade!
Atravessamos a ilha num tryke numa estrada de terra estreita e irregular. Pelo caminho iamos vendo pequenas casinhas que albergavam famílias inteiras. Cá fora, ao sol, uns jogavam cartas e conversavam enquanto outros conversavam e jogavam cartas. Em época baixa há pouco para fazer em Boracay. O povo "hiberna" no ócio até à chegada dos turistas, sendo o comércio o principal ganha-pão dos "Boracayenses".
Finalmente chegamos! o hotel era um charme!Tinha apenas cerca de 10 vilas embrenhadas na selva tropical e todas envidraçadas, deixando passar a luz e as cores da natureza.A cama com dossel inspirava os sonhos e tranquilizava a mente...foram dias de introspecção e de grande intimismo. Apesar da chuva quente e do céu azul escuro ameaçador penso que não podia ter sido mais divertido!O programa diário era muito simples: curso Padi de Scuba Diving na escola Calypso e ao fim da tarde tratamentos e massagens no SPA do hotel (muitos dos quais eram feitos na nossa própria villa). Penso que não pode haver melhor combinação do que fazer umas festas ao Nemo e aos amigos para, no fim do dia, recebermos festas no corpo com aprumadas técnicas suecas e asáticas. Descobri à conta disso pelo menos umas boas dezenas de músculos!
Mergulhar em Boracay foi a minha primeira experiência no fundo do Oceano...confesso que ia aterrorizada pelos inúmeros avisos de segurança feitos durante o curso a somar à minha fobia de tubarões mas, quando finalmente mergulhei, não houve tempo para receios!Era tudo tão perfeito! O silêncio do Oceano, os corais majestosos, o bailado de peixes exóticos indiferentes à minha figura negra e descoordenada...senti-me poluição visual no meio de tanta beleza! Apesar de estar com o Pinguim e com a Britty a nossa instrutora inglesa, tive uma sensação de autismo em relação aos que me acompanhavam. Queria captar tudo dentro de mim e não havia tempo para partilhar! Aquela enorme harmonia só seria comparável à que porventura senti dentro da minha mãe, uma sensação de aconchego e paz!!!Inesquecível!!!Mas sempre que subia para o barco, a ondulação, as vozes humanas e o peso do equipamento afiguravam-se como um duro retorno à realidade mesmo que essa fosse uma ilha magnífica como Boracay.
Gostavamos de caminhar desde a praia até ao hotel misturando-nos com a vida comum da ilha por uns minutos!Lá iamos debaixo da chuva morna a ouvir aqui e ali rádios a tocarem hits da JLo e dos Ozone enquanto passavam por nós na estrada lamacenta inúmeros trykes que contaminavam o ar com o seu rasto forte a gasolina. No hotel contavamos sempre com a simpatia da equipa: Nicole, Sheila, o talentoso chef vegetariano, e às meninas do SPA muito obrigada a todos!!!

Boracay nunca te esquecerei!

segunda-feira, agosto 22, 2005

"tudo o que quero e ser feliz"















Uma pausa na viagem para descansar....

Li hoje, que foi feito um estudo alemão acerca da felicidade dos europeus. "A análise assentou nos inquéritos promovidos pelo Eurobarómetro, o serviço da Comissão Europeia de análise da opinião pública, entre 1973 e 2002, junto de Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suécia. Os autores fizeram a média das respostas à pergunta «Como classifica em geral a sua satisfação com a vida que leva?», que consta do inquérito, que dá quatro possibilidades de resposta: muito satisfeito, que é quantificado em 4, satisfeito (3), pouco satisfeito (2), nada satisfeito (1). Portugal surge em último lugar com uma média de 2,52 enquanto os dinamarqueses apresentam o valor mais elevado com 3,61. Mais de metade da amostra situa-se acima dos 3 pontos." O estudo tentava ainda estabelecer uma relação directa entre felicidade e crescimento do PIB, relação que apenas se verificou em alguns ciclos temporais. Não me surpreende o facto de haver alemães a quererem calcular a felicidade alheia e extrapolar conclusões cientificas acerca do estado de espírito dos europeus.Mas tanta simplicidade de raciocínio leva-me a pensar que também acreditam conseguir chegar a um modelo econométrico que prove por A mais B quais as variáveis com maior grau de correlação com o nível de felicidade atingido por um determinado individuo e dai poder extrair a formula magica para ser feliz. O crescimento do PIB tem pouco a ver com sorrisos abertos.Se assim fosse não haveria samba no sambodromo nem suicídios na suecia.Os brasileiros são felizes mesmo quando afirmam na canção de Chico Buarque"que a coisa esta preta" . Lidam com a desgraça com muita graça, vadiando no hedonismo inocente quase infantil do "amanha arrumo um jeito..." e isto definitivamente nada tem em comum com variáveis macroeconómicas. Acredito que a felicidade se prende mais com a riqueza cultural dos povos e com a forma de encarar a vida. O fatalismo dos portugueses e puramente teatral e um culto nacional. Tal como os brasileiros nunca admitirão desgraça enquanto houver samba e futebol, os lusitanos chorarão sempre lágrimas de crocodilo mesmo que o sol brilhe por cima das suas vidas...faz parte do fado e da compaixão que gostam de sentir por si próprios...Assim terão tudo para serem felizes, mas apegados a este vicio de se maldizerem, não gozarão o presente na esperança vã de dias melhores. Mas façamos agora o exercício contrário. Vamos partir da premissa de que não é o PIB que "condiciona" a felicidade mas e esta que se ira reflectir no Investimento e no Consumo do país através do conhecido Índice de Confiança dos Consumidores. O somatório de comportamentos individuais mais ou menos proactivos gerarão mais ou menos sinergias e consequentemente originarão uma maior ou menor riqueza. A felicidade seria assim um bem colectivo que importaria "produzir" em prol do sucesso económico nacional. Mas a felicidade e quase imperceptível e intuitiva. Não e palpável e não pode ser "produzida" em série de forma padronizada e normalizada segundo as normas da UE.E antes feita de suspiros, de olhares, de sucessos e surpresas, de flores, de musica e de mar...e feita de pequenas conquistas do presente com um olhar sobre o futuro aprendendo do passado. Para medir a felicidade com rigor teria de ser inventado um índice que abrangesse todas estas nuances espirituais: uma espécie de índice "yuuuuppppiiiiii" uma vez que ficou aqui provado que o Produto Interno Bruto não chega para medir toda forca de uma valente gargalhada!

terça-feira, agosto 16, 2005

Uma noite em Manila

















Da janela do avião já conseguia ver as ilhas filipinas verdes e recortadas como peças de puzzle soltas no azul do mar. Em algumas delas os canais de água assemelhavam-se a artérias que irrigavam de vida o espaço físico. As construções, rurais e de pequena dimensão, apareciam de forma mais ou menos desorganizada fazendo adivinhar desde logo o baixo nível de desenvolvimento do país.
Manila vista de cima era o somatório desta realidade. Uma imensidão de pequenas casas de cores fortes que oscilavam entre o amarelo o azul e o rosa velho, a fazer lembrar uma Rocinha colorida e alegre.
Já em terra, a forte presença policial fez-se sentir logo que saímos do aeroporto. O ambiente de calma aparente cria-me alguma angústia e confesso que fiquei reticente. Os carros são revistados por questões de segurança e o transfer q nos esperava, como aliás a maior parte dos veículos, tinha vidros fumados porventura pelas mesmas razões. Alimentada pela excitação da novidade ignorei este facto e entrei no carro aproveitando o facto de ninguém me ver para fazer algumas anotações visuais daquele admirável mundo novo.
Manila é um misto de Ásia e América Latina. A tez carregada dos rostos e o verde tropical da vegetação transportam-me por segundos para o meu querido Rio de Janeiro, enquanto que os edifícios do legado espanhol me fazem lembrar momentaneamente La Havana velha e colonial. Acordo destes pensamentos com o som da buzina premida pelo o motorista. O coitado tenta desesperadamente vencer o trânsito caótico, sem lei e definitivamente asiático. Os carros ultrapassam pela esquerda e pela direita, não respeitam rotundas nem sinais, sendo o porte do veículo mais importante para definir prioridade à passagem do que as normas escritas no código. Veem-se muitas motas e triciclos a motor a que chamam trikes, são imensos!!!Em conjunto deslizam pelas estradas contando com a criatividade dos condutores habilidosos para furar aquela imensa massa de lata ambulante.
Enquanto me divertia com este circo louco descobri um meio de transporte colectivo que até então desconhecia existir. A frente igual à de um Jeep e a traseira prolongada e aberta atrás para facilitar a entrada de passageiros. São decorados com pinturas vivas e extravagantes e cada um tem um nome personalizado. Lembro-me de passar pelo Top Gun.
O guia explicou-me serem Jeepneys, antigos Jeeps da II Guerra Mundial, abandonados pelos americanos aquando da ocupação de Manila que foram posteriormente convertidos pelos locais nestes mini buses hilariantes.
O Pinguim estava com um sorriso de orelha a orelha, como eu o compreendia!
Já no hotel experienciamos um tratamento acolhedor e atencioso.Quando descemos para jantar espreitamos a festa de casamento de um casal de filipinos que decorria numa das salas de restauração. Os noivos, sentados num palco ao lado de um bolo de andares "very kitsch", olhavam radiantes a plateia de convidados dispersa por mesas ao longo da sala. Os amigos e familiares subiam ao palco um a um para, com a ajuda de um microfone, felicitarem e elogiarem o casal. Comentamos então termos tido um casamento bastante discreto afinal, pelo menos para os padrões asiáticos...

segunda-feira, agosto 15, 2005

Entre Macau e Manila...

















Despedi-me da Matilde, fiz as malas e segui viagem com o Pinguim para Manila.
Apesar de não gostar particularmente dos procedimentos logísticos inerentes a qualquer viagem aérea, para conhecer o mundo estou sempre disposta a enfrentar filas no check in, mostrar passaportes, preencher papelinhos, ser revistada por um detector de metais e acima de tudo enfiar-me num avião.
Confesso que faço parte daquele grupo de pessoas que desconfia das estatísticas e prefere ter os pés literalmente bem assentes na terra. É quase um paradoxo ter de fazer algo que me causa sofrimento para poder em seguida sentir a excitação e o deslumbramento que cada viagem me proporciona.
A verdade é que, apesar do mundo me entrar em casa de mil e uma formas, interagindo com o meu intelecto e imaginação, sinto vontade de cheirar a selva depois de uma intempérie tropical ou ver a cor da terra em África enquanto o sol se põe.
O mundo dos sentidos transmite-me a sabedoria que escapa aos melhores documentários do National Geographic e aos manuais de História, Ciência e Cultura.
Viajar é uma experiência sensorial por excelência. Muitas vezes ligo sítios por onde passei a uma determinada música ou cor. Lembro-me de ter estado em Portofino sempre que vejo um quadro de Matisse...há qualquer coisa de fauvisme nos tons vivos da paisagem. É esta interacção que me dá a percepção pessoal de um espaço físico do seu povo e da sua cultura e que no fim do dia me fará sorrir.
Sou assim uma nómada do meu tempo, aproveitando as vantagens do mundo global, do mundo rápido e próximo.

Em casa da gata Matilde

















Da janela de casa da gata vejo Macau ao amanhecer. Uma imagem calma, quase estática, não fossem dois barcos a moverem-se nas águas hibridas que banham a ilha e as minhas recordações.
A minha aventura pelo Oriente com a minha cara metade, a que daqui para a frente me referirei como pinguim, começou exactamente aqui.
Esperava eu, ainda travando uma batalha com o malfadado jet lag, ter um cheirinho de exotismo aligeirado por heranças lusitanas. Algo simples, que me enquadrasse no Oriente, sem que perdesse a minha identidade de cidadã portuguesa, europeia e ocidental. No fundo, esperava materializar aquela ideia vaga com que cresci de que, do outro lado do mundo, havia uma extensão do meu país para onde fui vendo partir pessoas.
Talvez por imaginar Macau como um fado envolto num kimono e a passagem de Portugal, como a de um amante antigo que deixou marcas profundas no leito abandonado...talvez por isso, me tenha sido difícil olhar para um Macau crú, esquecido e indiferente a olhar deslumbrado a grandiosa China e a sua cultura milenar.
Estranhei então haver ruas escritas em português sem que quase haja quem as saiba ler, assim como os nomes das lojas e das farmácias.Senti-me devassada pelo uso acessório da minha língua ao mesmo tempo que todos esses escritos me ajudavam a entender a cidade, como se assistisse a um filme de kung fu legendado em português.
A minha passagem por Macau não foi pacífica e parece que São Pedro concordou, porque foi feita no dia mais quente desde 1903 debaixo de um sol húmido e impiedoso a parecer mais um gigante banho turco.