segunda-feira, agosto 15, 2005

Em casa da gata Matilde

















Da janela de casa da gata vejo Macau ao amanhecer. Uma imagem calma, quase estática, não fossem dois barcos a moverem-se nas águas hibridas que banham a ilha e as minhas recordações.
A minha aventura pelo Oriente com a minha cara metade, a que daqui para a frente me referirei como pinguim, começou exactamente aqui.
Esperava eu, ainda travando uma batalha com o malfadado jet lag, ter um cheirinho de exotismo aligeirado por heranças lusitanas. Algo simples, que me enquadrasse no Oriente, sem que perdesse a minha identidade de cidadã portuguesa, europeia e ocidental. No fundo, esperava materializar aquela ideia vaga com que cresci de que, do outro lado do mundo, havia uma extensão do meu país para onde fui vendo partir pessoas.
Talvez por imaginar Macau como um fado envolto num kimono e a passagem de Portugal, como a de um amante antigo que deixou marcas profundas no leito abandonado...talvez por isso, me tenha sido difícil olhar para um Macau crú, esquecido e indiferente a olhar deslumbrado a grandiosa China e a sua cultura milenar.
Estranhei então haver ruas escritas em português sem que quase haja quem as saiba ler, assim como os nomes das lojas e das farmácias.Senti-me devassada pelo uso acessório da minha língua ao mesmo tempo que todos esses escritos me ajudavam a entender a cidade, como se assistisse a um filme de kung fu legendado em português.
A minha passagem por Macau não foi pacífica e parece que São Pedro concordou, porque foi feita no dia mais quente desde 1903 debaixo de um sol húmido e impiedoso a parecer mais um gigante banho turco.

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