segunda-feira, agosto 21, 2006

A cidade Cosy


A California tem 410.000 km2 onde cabem 4 vezes Portugal.Dentro dela existe a Sul, a California das Baywatches, das estrelas de Hollywood e das barbies de Bervely Hills que nao cheguei a conhecer e para Norte a California de Yosemite, do County Wine e do Pacifico agreste onde passei os ultimos 2 meses.
O Centro da California e em particular a area circundante de Sao Francisco conhecida por Bay Area diverge muito do que observei ate entao nos USA. Se Chicago lembra o Inverno pelos pinheiros nordicos e o grande lago frio, Sao Francisco lembra o Verao pelas temperaturas amenas durante o ano inteiro e natureza mediterranica. Curiosamente as gentes da California sao mais frias do que as de Chicago, mais parecidas com os Europeus, individualistas e menos comunicativos. Como no resto da america a populacao e heterogenea havendo mistura de diversas etnias. Em Chicago terra dos blues sente-se mais a presenca da comunidade afro-americana, na California sao os hispanicos que ocupam a maior fatia de estrangeiros da regiao seguidos dos asiaticos. A sua influencia e visivel por exemplo nos nomes das cidades e estradas (Los Angeles, Sacramento, San Bruno, Palo Alto, etc.).
Sao Francisco desvia-se da imagem tradicional das cidades americanas impessoais e extensas. Nao tem torres muito altas e e pequena o suficiente para fazer um passeio pedonal. Em muitas coisas faz lembrar Lisboa nao so pela Golden Gate Bridge irma gemea da nossa 25 de Abril como pela marginal muito parecida com a 24 de Julho. No entanto as colinas de Sao Francisco nao sao apenas 7 e sao tao inclinadas que e impossivel fazer ponto de embraiagem manualmente!No alto destas encostas espalham-se jardins e parques, verdadeiros miradouros e secretos refugios para quem procura um pouco de alheamento.
Nao sei porem se Sao Francisco iguala a nossa capital lusitana na sua luz tao caracteristica.O clima primaveril desta zona e afectado por um estranho fenomeno durante os meses de Julho e Agosto, exactamente o periodo da minha estadia por estas bandas. Um enorme "capacete" de nuvens cinzentas paira sobre a cidade fazendo descer a temperatura por vezes ate 15 graus durante o dia e os bosques circundantes envolvidos nessa estranha nevoa parecem saidos dos contos dos irmaos Grimm.
No centro urbano, o charme das casas Victorianas pintadas em cores por vezes excentricas como rosa choque e azul turqueza dao a cidade uma alma naif e os electricos amarelos cheios de turistas compoem o cartao postal.
Na baia podem ver-se colonias de leoes marinhos consolados ao sol e ao fundo Alcatraz silenciosa rodeada pelas aguas frias e agitadas do Pacifico. Do outro lado da baia fica Salsalito uma encantadora cidadezinha contruida numa encosta escarpada cheia de verdura de onde despontam casas com vista privilegiada sobre a cidade.
Sao francisco e tambem uma cidade liberal e artistica. Foi palco do movimento hippie dos anos 60 e acolhe a maior comunidade Gay do mundo que se concentra num bairro habitacional facilmente identificavel pelas bandeiras Gay Pride hasteadas em casas e cafes. E uma cidade que transpira vida, juventude e charme, um cantinho cosy ao pe do mar e um fait divers a America dos arranha-ceus.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Road Trip nos US - Utah - Nevada - California


Terceiro dia de viagem. Atravessamos o Utah pelo Norte e deleitamo-nos com vicosos montes verdes que serviam de pasto a belos cavalos e riachos que corriam pelas encostas parcendo fios dourados pelo Sol. Aquela envolvencia alegre animou-nos o espirito e recarregou energia para a proxima etapa. As viagens a dois (agora a 3) proporcionaram sempre longas conversas....recordamos coisas vividas, fazemos planos para coisas que queremos viver e tecemos teorias acerca do mundo... entre a Web, a TV, o cinema, o consumo, os amigos, a familia e os restantes apelos que recebemos nas horas de lazer, falta tempo para uma conversa sem pressa, para deambular pensamentos numa estrada sem fim e dar asas a imaginacao, sao por isso preciosos os momentos a tres a ver o mundo pela janela sem que ele nos entre por ela a dentro...
Assim fomos ate Salt Lake City atravessando as planicies prateadas de sal e paramos para ver o majestoso lago azul. O ponto alto foi a travessia da segunda maior recta dos USA, nem mais nem menos do que 116 km em linha recta!!
O Utah ficara para tras, para ao pe do sol ja posto e foi com a lua que conheci o estado de Las Vegas. Na verdade, nem a lua vi, a divisao entre o Utah e Nevada estava assinalada no nosso itinerario por uma pequena cidade de fronteira, genero Fuentes de Onoros vizinha de Vilar Formoso, so que em vez dos cobicados caramelos espanhois, a atracao eram os cintilantes neons quase visiveis do espaco a lembrar uma gigante feira popular. Paramos no Mac local e enquanto mordia avidamente um cheeseburger reparei nas dezenas de camioes TIR ali aparcados mesmo em frente a um letreiro que anunciava um show de danca exotica. Definitivamente nao era sitio para uma senhora. Pernoitamos numa terreola de nome Elko e acordamos com apetite. Aconselharam-nos no hotel um local em frente chamado Lion Inn para um bom pequeno-almoco. Com o Antonio nos bracos, empurrei a porta ja a sonhar com um belo buffet que me aconchegasse o estomago mas deparei-me com uma sombria sala de slots iluminada pelas ofuscantes luzes das maquinas ocupadas por jogadores freneticos a matar o vicio logo pela manha!O Antonio de olhos esbugalhados, curioso a olhar o leque de cores, eu meia perdida ainda a tentar entender como se tomava pequeno almoco num casino e uma empregada de limpeza a olhar para nos e a abanar a cabeca com ar reprovador confundindo-me com uma mae desnaturada a jogar de filho ao colo. Pedi a pressa qualquer coisa para comer e sai dali o mais depressa que pude!
Atravessamos o deserto do Nevada ja com vontade de chegar a casa. Foi um dia duro marcado pela febre provocada pela amamentacao do Antonio. Sentia-me sem forcas, com dores no peito e pedi ao Pinguim que mudasse a fralda ao pequenino. Fe-lo na WC das senhoras numa estacao de servico e foi prontamente elogiado pelas presentes pouco habituadas a ver homens a tratar de bebes!
Chegamos a California no final do dia; surprendi-me com a semelhanca com o sul de Portugal e estranhamente senti o aconchego da casa que deixei a milhares de kilometros de distancia...

sábado, julho 29, 2006

Road Trip nos US - Nebraska e Wyoming



A segunda etapa da viagem levou-nos ate a America profunda. Os estados de Nebraska e Wyoming despidos de verdura, aridos e crus nao atraiam vida humana para si sendo o mais fiel espelho daquela paisagem nua o proprio silencio que dela advinha. Rochas com estranhas formas davam ao cenario a aurea surreal dos quadros de Dali. No horizonte erguiam-se as Rocky Mountains ainda cobertas pelas neves de Inverno como que a refrescar aquele inferno amarelo. Brokeback Mountain que serviu de ninho aos dois cowboys enamorados revela o poder daquela natureza imponente e avassaladora.
Paramos para por gasolina numa bomba pequena e isolada no meio do nada. A porta, hasteada, a bandeira dos USA com o seguinte dizer: "love it or leave it". Concordei imediatamente que seria preciso amar muito a terra para viver naquele fim de mundo. Continuamos o itinerario da A-80. De repente, a esquerda, pareceu-me ver algo que se assemelharia a um tornado, uma enorme nuvem de po com varios metros de altura em movimento. Fiquei mais fascinada que receosa e cheguei a tirar um apontamento fotografico do fenomeno. Vim mais tarde a saber tratar-se de um tipo de tempestade de po muito comum nos US que em tempos chegou a destruir culturas agricolas e cidades trazendo aos habitantes fome e miseria.
Aquele cenario lunar servia no entanto de canal fisico de abastecimento do mercado interno americano. O trafego de grandes camioes decorados em tons psicadelicos e carregados de mercadorias, assim como a presenca dos maiores comboios que alguma vez vi, nao deixaram duvidas de que nao havia alentejanos por aquelas paragens. As refinarias petroliferas, exibindo a suas flares flamejantes sublinhavam o aproveitamento dos recursos naturais existentes. E facil imaginar actividade economica em regioes prosperas mas em condicoes adversas como aquelas fez-me invejar a forca e coragem daquele povo que muito poderia ensinar ao meu. Adormeci a pensar nisso e acordei cedo com saudades de Portugal quando ouvi na TV o hino nacional no inicio do Portugal-Mexico.

sexta-feira, julho 28, 2006

Road Trip nos US - de Illinois a Iowa


No dia 19 de Junho despedi-me da minha mae que nos veio visitar, de Chicago e embarquei numa nova aventura. Desta vez iriamos percorrer 3500 km de carro atravessando os USA em 3 dias e meio rumo a California. Ha de facto muito asfalto entre Chicago e Sao Francisco quase tanto como entre Lisboa e Varsovia, mas sem sair do pais! Nos USA as escalas sao diferentes e o pais tem uma dimensao tal que justifica o desinteresse dos americanos pelo resto do mundo.

Era a nossa primeira grande viagem em familia e estavamos por isso curiosos e entusiasmados. O pediatra nao se opos a ideia aconselhando no entanto a parar de 2 em 2 horas para assegurar as necessidades do bebe o que fez com que o ritmo desta road trip fosse suave q.b. para assimilar tudo o que iamos vendo.

Saimos de Illinois rumo ao estado vizinho de Iowa. Este, caracterizado por vastas planicies semelhantes as que vi em pequena na serie "Uma casa na pradaria" e dominado pelo tom verde meticulosamente organizado em culturas agricolas latifundiarias. Nao se viam homens a trabalhar a terra apenas grandes maquinas paradas e de quando em quando alguns celeiros vermelhos que quebravam a monotonia da paisagem.
E a terra dos Sioux e do grande Mississipi que cruzamos ja de noite. Pude ver as luzes dos barcos dispersos ao longo das margens com as suas enormes rodas a fazer lembrar o mundo magico de Tom Sawyer.
A presenca dos exploradores franceses observa-se por exemplo na bandeira do estado azul, branca e vermelha e nos nomes das terras sendo a capital do estado Des Moines. Pernoitamos em Iowa City e sem ter reserva no hotel, sujeitamo-nos a um quarto com duas camas, o unico disponivel. Abrimos a porta ansiosos por um leito que nos oferecesse algum descanso e, a boa maneira americana, esperava-nos uma enorme suite com duas camas king size...sao os chamados efeitos de escala que nos abriram o sorriso depois de muitas horas de viagem.
PS- hoje o Antonio faz 3 meses :) parabens biscoitinho!

sábado, julho 22, 2006

0 - 3

A semelhanca de Cristo na historia da humanidade, o nascimento do Antonio dividiu a minha vida em duas eras distintas: A.A. e D.A.. Nao digo isto apenas porque o nascimento de um filho abala a alma do mais insensivel dos mortais, mas porque ha de facto uma rotura com os habitos antigos, com a individualidade e com as prioridades e escolhas que fazemos. Tudo muda mas e o tempo quem sofre a maior metamorfose.
Na Era D.A. o tempo e infinitamente mais veloz, especialmente durante a noite. Actualmente considero 6 horas de sono uma noite bem dormida e mais do que isso, um milagre. Durante o dia o tempo diz-se contra-relogio e desconfio seriamente merecer entrar para o Guiness pelo desempenho mais rapido de varias tarefas domesticas em simultaneo. Outro facto curioso acerca do tempo e a forma como se espelha no desenvolvimento do Antonio. O pequenino tem vindo a modificar as feicoes quase diariamente e deve ser por isso que uns dizem parecer-se com o pai, outros com o bisavo, ou com a tia, ou ainda com as avos correndo a familia de les a les! Todos no entanto concordam que de mim apenas herdou os pes.
A rapidez com que esta a crescer ainda nao me faz velha mas ja nostalgica...apesar da pouca idade da ja pequenos passos diarios para a sua futura emancipacao. Observar de fora a forma como acompanha esse tempo rapido e, ao mesmo tempo, magico e arrepiante...um dia irei perde-lo para o mundo e acabarei sogra de alguem, nao imagino pior fim!
O periodo 0-3 tem sido de descoberta mutua, com dificuldades na comunicacao mas com uma intuicao paranormal quase telepatica que me permitiu compreender a sua linguagem quando me tenta dizer que tem fome, ou sono, se quer brincar ou ser acarinhado...e tao fragil e poderoso ao mesmo tempo!
Da antiga Gastarina centrada no seu umbigo redondinho...resta apenas o proprio umbigo agora com uma forma ligeiramente mais distendida. A nova Gastarina vive hoje espantada com a coisa mais certa que fez na vida e tudo o resto sao peanuts...

sábado, junho 10, 2006

O PARTO

Decorreu um mês e meio desde que o António nasceu. A aventura que começou na minha lua-de-mel na Ásia terminou no Women's Hospital da Northwestern University em Evanston. Depois de semanas de ansiedade e dois falsos alarmes que nos levaram ao Hospital na certeza que seria dessa, tinha começado a pensar que iria ficar grávida para sempre! Cheguei a dizê-lo com convicção à enfermeira que me assegurou que tal não iria acontecer e de facto, após 40 semanas e 5 dias de gestação, a espera acabou.
Às 18h do dia 26 de Abril entrei em trabalho de parto sem saber, e, julgando ser mais uma barraca para me embaraçar junto do staff do Hospital, decidi ignorar e continuar a descascar batatas para o jantar dessa noite. As dores que sentia não eram fortes e pareciam-se com as que mensalmente me incomodam por uns dias mas que resolvo facilmente com um Buscopan. Desconfiada porém, nessa noite comi muito não fosse passar fome durante as longas horas de espera típicas do último dia de gravidez. Depois de uma ida à WC finalmente as dúvidas começaram a dissipar-se. Visivelmente nervoso o Pinguim telefonou para o médico explicando-lhe os sintomas e este prontamente respondeu "it sounds labor to me!".
Foi hora de voltar a meter as malas no carro e seguir viagem com um sorriso colado à cara!Entrei calmamente a pé na maternidade e fui submetida a vários exames que serviram para confirmar o meu estado através da dilatação do cervix e verificar os sinais vitais do bebé. As dores iam aumentando de intensidade mas estava decidida a aguentar o mais que pudesse antes de recorrer ao último achado da medicina, pelo menos aos meus olhos nessa noite, chamado de Anestesia Epidural.
Cedi aos 4,5 cm de dilatação.
Antes disso tinham-me aconselhado a andar porque aceleraria o processo e a volta de uma fonte em circulos tal e qual uma maluquinha do Julio de Matos, decidida a cumprir a minha missao o melhor que sabia dei o meu passeio higienico. Senti-me de repente como a propria fonte a jorrar agua e isso queria dizer que o passeio tinha acabado.
O trabalho de parto decorrera de forma normal ate ai mas a cor do liquido amniotico inverteria o rumo dos acontecimentos nessa longa noite. A medica observara-me mais uma vez e concluira que a tonalidade verde se devia a perda de meconio por possivel sofrimento do Antonio...poderia ser o cordao umbilical a volta do pescoco. Fiquei um pouco assustada...ja ouvira muitas historias acerca de cordoes e nenhumas delas tinha desfecho facil. Queria expressar-me, fazer queixinhas para ouvir um - it's OK everything is going to be fine!- mas nem isso conseguia, so pensava no bebe e no que se passaria dentro de mim. Felizmente o Dr. Nelson, o meu obstetra que tinha o condao de me transmitir paz e serenidade tinha chegado. Explicou-me que para que o Antonio nao sofresse iriam tentar apressar o trabalho de parto e se isso nao resultasse seguiriamos para Cesariana. Senti um misto de frustacao com medo...ja tinha pensado em cesarianas mas como uma coisa que so acontece as outras e que contra todas as expectativas iria tambem experienciar .Os testes de stress revelaram que o bebe nao estava confortavel e isso foi suficiente para desmistificar essa grande palavra na minha cabeca. No bloco operatorio leram-me os "direitos"ou seja, consciencializaram-me em ingles de medico de que tal como em qualquer cirurgia haveria riscos inerentes a mesma e fizeram-me assinar um papel de consentimento. No momento seguinte sentia a minha barriga a ser revolvida, uma sensacao horrivel como se tivesse a ser expropriada do meu proprio corpo.Agarrei-me ao Pinguim ja a meu lado que me tentou acalmar...olhei p o lado para o berco que haveria de receber o Antonio, em acrilico transparente a receber a luz branca das luzes da sala...as luzes que reflectiam no vidro a minha barriga aberta e vi sem querer o meu corpo por dentro...julguei-me por momentos envolvida numa cena de laboratorio CSI e sorri com a estupidez daquele pensamento...
De repente um choro forte seguido depois do meu, baixinho, feliz...
Seguiram-se momentos de agitacao, o pinguim excitadissimo com o nosso filhote nos bracos, o primeiro banhinho, as fotos e eu ainda prostrada na maca sem conseguir mexer-me ansiosa por te-lo so para mim. Mais tarde no quarto com ele nos bracos percebi finalmente o que era amor de mae.

segunda-feira, maio 01, 2006

10:02 da manhã do dia 27 de Abril de 2006

Foi o momento mais feliz da minha vida...nasceu o António Maria o bébé mais bonito do mundo, palavra de mãe babada ;). O relato fica para depois porque agora tenho de ir dar uns mimos a alguém que me olha com olhinhos de azeitona!

sexta-feira, abril 21, 2006

A América para principiantes Vol. I

1. Acessibilidades e Transportes
1.1. Na América quase toda a gente passa na carta de condução. Os carros não têm mudanças e os lugares de estacionamento dão para dois carros europeus e para um carro e meio americano, sendo por isso difícil falhar o alvo. Ainda assim há quem não passe;
1.2. Logo, os carros americanos fazem parecer todos os carros europeus Smarts e os Smarts carrinhos de bébés... (curiosamente os carrinhos de bebes parecem carros de Fórmula 1);
1.3. Pérolas do Parque Automóvel Americano:
  • HUMMER - O carro tanque: é claramente inspirado em veículos bélicos e faz as delícias dos chefes de família que gostam de ter tudo sobre controlo e que um dia sonharam ser o Rambo.http://tinyurl.com/j3237
  • LIMOS - Fazem parte da mobília da casa o que seria da América sem elas?Existem de todos os comprimentos e quanto mais indiscretas melhor. São carros-party por excelência...mas... limousines Hummer?!!!!!What is that??http://www.firstclasslimos.net/
  • CADDILLAC - Os novos Cadillac são meios de transporte high-end bastante solicitados mas eu gosto é dos antigos! Estas relíquias cada vez mais raras são as minhas predilectas mas têm que ser cor-de-rosa choque!Conduzem-se de cabelo ao vento ao som de Jonnhy Cash http://www.terragalleria.com/images/us-ca/usca9886.jpeg

  • OS CARROS DA POLÍCIA- Confirmo, são tal e qual como os dos filmes. Banheiras predadoras cheias de luzes e sirenes sempre à cata de um desgraçado a quem possam passar uma multa;

  • OS CARROS DOS BOMBEIROS - O meu pior pesadelo. São camiões vermelhos cheios de mangueiras que passam pelo menos 200 vezes por dia em frente à minha janela com as sirenes e as luzes ligadas como se o mundo fosse acabar. Aqui em Evanston são muito úteis para salvar gatos de árvores. Quando passam a noite fico com insónia.

1.4. A Filosofia do Carro-Casa: todos os carros são salões. Devem ter poltronas confortáveis para sentar a família e muito espaço para esticar as pernas. É como estar em casa! Todos têm aquele tipo de pormenores tal como porta-copos para as coca-colas e tecnologias de ponta tipo GPS e um bom sistema de som. O condutor americano conduz ao ritmo de quem vê um filme no sofá;

1.5. As estradas americanas têm duas faixas de cada lado em que cabem pelo menos 2 carros americanos. Fazem parecer a A1 uma estrada nacional. As auto-estradas americanas são pistas de aviação onde cabem pelo menos um boeing e um airbus lado a lado;
1.6. Na América não há rotundas. Quando aparece uma por engano, forma-se uma fila de trânsito baralhada pela novidade;
1.7. Nos semáforos pode-se sempre virar à direita mesmo que esteja vermelho. Regra inteligente e muito prática que facilita o trânsito, deveria ser importada imediatamente para Portugal;
1.8. A regra dos 3 segundos: não se pode conduzir a menos de 3 segundos do carro da frente. Resulta melhor do que as setinhas de distância que temos nas auto-estradas portuguesas;
1.9. Nos cruzamentos é obrigatório fazer full-stop (ou seja, não vale a pena abrandar apenas o carro é parar mesmo!), quem não o fizer terá um carro da polícia atrás de um arbusto com uma multa já passada.Curiosamente deixam ultrapassar pela direita, falar ao telemóvel e ignoram totalmente os duplos contínuos!
As estradas americanas são assim, aos olhos de um estrangeiro, um verdadeiro playground de pura diversão!!
Have a nice trip!

quinta-feira, abril 20, 2006

C'est pour ça que je t'aime dejá...

Desperate Pregnant Wife

Quem espera desespera...já passaram 39 semanas e meia mas ainda não deu a cara. Isto não quer dizer que não dê sinais da sua presença, mais do que isso, marca de forma clara o território que agora lhe pertence com queixas dos vizinhos estômago, bexiga e outros orgãos que vêm dificultado o seu trabalho diário pelo cada vez menor espaço disponível para o fazer.
É certo que passa a maior parte do tempo a dormir mas o facto de não ter janela para o exterior impede-o de distinguir a noite do dia. Aproveitando o balancear do meu corpo nos passeios que dou enquanto há sol, deixa-se adormecer como num berço, acordando de noite quando o embalo acaba. Começa então a sua ginástica de preparação para o parto lá pelas 2 da manha. Três séries de perninhas em cima do fígado mais quatro séries de bracinhos na bexiga alternadas com alongamentos do tronco que desviam o estômago do lugar e fazem arder o esófago.Gosta muito de saltar sobre a sua cama elástica com vários metros de molas que anteriormente serviam para terminar o trabalho digestivo começado pela boca.
O útero parece ser o único que concorda com esta nova ordem espacial: ganhou importância, tamanho e transformou-se num gordo burguês. Está de tal forma altivo que "oprime" a circulação sanguínea das veias no sentido ascendente fazendo com que os tornozelos pareçam troncos e as pernas fiquem coradas. Ando por isso agora de havaianas e pus as botas no armário. A minha imponente barriga agora mais descaida suplica pelo dia D. Não a censuro afinal é ela quem suporta o "peso" da situação! Para mais já por duas vezes foi ofendida por estranhos que me abordaram perguntando se iria ter gémeos...sentiu-se gorda coitada!
Teoricamente daqui a 4 dias, o equilíbrio será reposto e o pequeno príncipe deposto. Mas que nada receie...cá fora há um novo reino à sua espera e uma vida nova para viver! Até lá, continuarei sem ver os pés no duche à espera que o pequerrucho decida aparecer...

terça-feira, abril 04, 2006

Shopping

Ontem fomos às compras a um centro comercial aqui perto. O Pinguim precisava de uns jeans novos e eu tinha um vale de desconto no Bloominglade's (uma espécie de El Corte Inglês) para usar nos próximos dias. Após a prova de alguns modelos decidiu-se por uns com ar "jovem" apropriados à sua nova rotina de estudante. Quando fomos pagar pedimos o tal desconto e apercebemo-nos de dois jovens afro-americanos com ar atlético e look streetwear que também ali se abasteciam de calças de ganga. Um deles levou uns 8 pares e pagou nem mais nem menos do que 1500 dólares. Enquanto a cena decorria os dois observavam-nos e eu, acostumada a que olhem para a minha enorme barriga, achei até bastante normal que o fizessem. De qualquer forma, o pagamento com um cartão visa dourado daquela quantia toda em jeans pareceu-me bastante invulgar e comentei com o Pinguim se seriam daqueles miudos dos gangs com poder de compra muito acima da média para a pouca idade que aparentavam ter. Quando finalmente chegou a nossa vez, o Pinguim comentou a sorrir com o vendedor que se sentia embaraçado em pedir um desconto de 15 dólares quando alguém antes dele dispendera um montante tão avultado em roupa. O vendedor surpreso perguntou "não sabe quem era?Era Ben Gordon o jogador de NBA dos Bulls!"
Na verdade não sabiamos, somos estrangeiros e o NBA passa-nos um pouco ao lado. A nossa ignorância seria equivalente à de alguém em Portugal não reconhecer o Nuno Gomes do Benfica por exemplo.
Percebi então que os dois olhavam para nós na expectativa que os reconhecessemos por estarem habituados ao estatuto de estrelas mas sem sucesso porém...e para cúmulo, a leitura que fiz da situação foi a de dois jovens bem sucedidos mas possivelmente delinquentes às compras.Hilariante.
Quando cheguei a casa fui ao site do NBA e lá estava ele, o melhor "sexto jogador" do NBA em 2004/2005
Hoje por coicidência passou a biografia dele na televisão de forma que, da próxima vez, quando nos voltarmos a cruzar no shopping, possivelmente dar-lhe-ei a atenção a que está habituado no mundo do basketball e que reconforta o ego de uma superstar.

domingo, abril 02, 2006

Dolce Vita















A vida em Chicago corre suavemente...o tempo tem vindo a melhorar o que facilita muito o meu quotidiano. É dificil desacostumar-me do maravilhoso clima de Portugal...na verdade não sabia que tinhamos um clima tão bom, nem quando vivi no Rio com 40 graus e às vezes mais. Aqui o frio desencoraja uma caminhada ao pé do lago que a propósito é magnífico e propicia o dolce fare niente caseirinho.

Tenho aproveitado o tempo de "espera" pelo António para pôr em prática um dos meu hobbies favoritos que há muito tinha largado. Voltei a cozinhar e estou a adorar!Lanço-me então na busca por produtos de qualidade e condimentos elaborados. Aqui na rua existe o melhor supermercado do mundo chama-se "Whole Foods" e é mais perigoso para o bolso do que passar em frente à montra da Coach! Belíssimo e caríssimo também, os produtos alimentares são 100% saudáveis e muito requintados, todos dispostos em expositores minuciosamente estudados para que sejam uma experiência estética para o olhar. O sonho de qualquer dona de casa e o pesadelo de qualquer marido que se aventure em acompanhá-la ao paraíso dos alimentos podendo contar com umas horas valentes na escolha ponderada do gourmet.
É engraçado tentar explicar no meu inglês de russa que preciso de pão ralado ou de gelatina em folhas o que leva sempre a curiosidade dos meus interlocutores a alongarem a conversa para saberem de onde venho e quando nasce o bébé.
O Pinguim tem sido uma cobaia paciente (e sincera também :)) apoiando a minha criatividade de chef em aventuras que nem sempre correm pelo melhor mas que pelo menos são um fait divers à gastronomia norte-americana...ontem recebemos aqui em casa o Michael, um amigo suíço que veio jantar. O menú foi: creme de cenoura com ovo cozido e salsa, pato com laranja acompanhado por arroz de forno e salada verde por fim de sobremesa uma saladinha de frutas feita pelo Pinguim mt mt boa!Ahh... e vinho tinto que acabou a meio de uma partida de rummy todo na toalha giríssima que tinha comprado para ocasiões mais especiais, nas cadeiras de tecido, na parede ainda hoje manchada, alcatifa e calças do convidado!
O meu outro hobbie é jogar golfe. Estou a aprumar o meu swing e putting e tenho a sorte de ter como professores Tiger Woods, Jake Nicklaus e Singh. Já faço uns Birdies e Eagles no meio de uns tantos Bogeys e chego a dar tacadas de 320 metros...mas o mais incrivel é que faço isto tudo sem levantar o rabo do sofá!Estou viciada na PS2 e considero seriamente a hipótese de vir a tentar levantar uma bola de golfe um dia destes!
Hoje mudou a hora e o António chegou ao fim do seu desenvolvimento dentro do útero. Se nascesse hoje já não seria considerado prematuro. Estou assim literalmente à espera que se decida a aparecer. Ontem dia 1 de Abril simulei que tinha entrado em trabalho de parto aproveitando o facto de poder mentir e não ser pecado. A expressão de aflição da minha cara metade foi de tal modo real que não prolonguei o teatro por mais um segundo sequer!Confesso que não consigo imaginar as terríveis dores que irei sentir mas morro de medo delas e a imprevisibilidade do futuro não se aplica tanto neste caso; tenho a barriga gigante, agitada e tenho data "marcada" para penar!Mas enquanto a hora não chega vou aproveitando os últimos momentos a dois sem stresses... aproveitando cada minuto de puro lazer...

quarta-feira, março 15, 2006

Metamorfose

E assim estou na recta final da maior aventura da minha vida!Desde que começou passaram 241 dias ao longo dos quais fui sofrendo uma transformação gradual no meu físico e mente de forma a ser hospedeira da minha herança no mundo.

Gerar uma vida nova é maravilhoso mas requer disponibilidade, dedicação e algum sacrifício confesso. A primeira grande mudança que senti foi o impacto psicológico. Ser mãe aos 31 anos comporta uma maior consciencialização das consequências que daí advêm. Não imagino nada tão poderoso e ao mesmo tempo tão desafiante como colocar um ser humano no Mundo. Até agora tenho-o protegido dentro de mim e consigo dar-lhe tudo para que se sinta bem ainda que tenha cedido parte de mim e do meu bem estar (especialmente nesta fase final).

Tudo mudará no entanto quando o António decidir vir ao mundo. Sofrerá no processo de nascimento, a sensação de bem-estar desaparecerá, sentirá pela primeira vez frio, fome e os seus pulmões vão doer quando respirar pela primeira vez. Terá a sua primeira sensação de abandono e desde logo me alertará para a difícil tarefa de conseguir que seja feliz. É uma responsabilidade tão grande que minimiza todas as mudanças que o meu corpo sofreu até então.

Por ele a minha barriga quadriplicou, o meu sangue tornou-se mais rápido, o meu coração acelerou, o meu apetite aguçou, as minhas pernas incharam, dormi mais para que descansasse, deixei de dormir porque se agitava, ri mais e chorei mais também! O meu corpo enfim, dilatou e cedeu todo o espaço que tinha para receber os seus cada vez mais longos e potentes pontapés. Por ele preparo-me com medo para as horas penosas que ainda hão de vir (falta pouco mais de um mês) ...por ele o que eu não faria???

A metamorfose deu-se dentro de mim, deixei de ser filha para passar a ser Mãe. Haverá mudança maior do que esta?

domingo, fevereiro 26, 2006

Chicago's Skyline

Cheguei sensivelmente há um mês a Chicago e confesso não ter sentido o tempo passar...está tudo a ser demasiado rápido, demasiado novo, demasiado bom. Esta repentina dose de felicidade que tento sofregamente digerir de maneira mais ou menos hedonista, tem-me feito levitar um pouco da Gastarina do pequeno burgo português. Perdi propositadamente a identidade e deixei-me cair graciosamente no anonimato. À minha volta milhares de americanos de diferentes etnias circulam nas mesmas ruas onde me misturo com as suas rotinas. Observo atentamente os seus hábitos, os seus gestos e a forma eloquente como contam uma história banal ao vizinho com quem se cruzam no elevador ou à pessoa de trás na caixa do supermercado. A observação dos pormenores quotidianos deste povo tem sido muito mais surpreendente do que alguma vez imaginaria e faz-me questionar a cultura ocidental como um todo. É certo que em linhas gerais há de facto coisas que nos aproximam enquanto povos, mas desta micro-análise sociológica "corriqueira" que o meu dia-a-dia me proporciona, retiro comportamentos e abordagens que uma portuguesa recém-chegada como eu tem dificuldade em entender e em explicar. Somos gémeos falsos disso tenho a certeza e à medida que me vou entranhando no american lifestyle é-me cada vez mais claro o profundo desconhecimento que nós, europeus, temos acerca dos conterrâneos do Al Capone.
Evanston, a cidade onde resido actualmente, é visualmente muito agradável pelos seus edifícios baixos rodeados de árvores, esquilos tendo o lago Michigan como pano de fundo. A vida de Evanston gira à volta da universidade tal como a de Coimbra e o ambiente universitário enche de juventude os cafés e os bares do centro.O comércio desta pequena cidade de 70.000 habitantes distribui-se por grandes superfícies comerciais ao longo da periferia preparadas para receber milhares de visitantes tanto em espaço como em oferta quase inesgotável de produtos . Sente-se que a economia flui de forma espontânea, bombeada pela atitude pro-activa dos hábeis vendedores e pelo consumo desenfreado da população em geral. Não existem vendedores com ar de frete atrás de um qualquer balcão. Primeiro porque provavelmente seriam despedidos e depois porque os salários variam de acordo com os resultados obtidos. A incerteza no futuro que pode facilmente derrapar na indigência assegura o profissionalismo necessário à vitalidade da economia e à renovação contínua do tecido empresarial.
A grande Chicago com 9,3 milhões de habitantes, é um grande puzzle composto por cerca de 130 cidades como Evanston ou maiores (incluindo Chicago) numa área de aproximadamente 23000 Km2 (cerca de 1/4 da área de Portugal ou ainda correspondente ao somatório das áreas de Viseu, Guarda, Bragança e Vila Real). É fascinante o turbilhão de vida à minha volta e a interacção dos actores sociais que coabitam este espaço. Um espaço multi-racial com diferenças sociais por vezes extremas e que resultam da performance de cada um nesta enorme teia indiferente aos dramas individuais. Aqui, mais do que em outro sítio qualquer, o mundo não pára e não espera por ninguém...

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Festa de Despedida

Já falta pouco para a partida! A ansiedade começa a aparecer e os dias passam a "conta-gotas". É como se estivesse na recta final de uma época de exames já farta dos livros e a pensar em praia mas com o alento de só faltar mais um para terminar...um misto de excitação e desespero portanto.
Entretanto, aos poucos começo já a pôr em marcha os preparativos. Tenho uma série de "pendentes" burocráticos a tratar e para esses infelizmente ainda não ganhei coragem.Refiro-me por isso aqueles que me dão gosto!
Por sugestão da minha mãe procurei a minha roupa de bebé dos 70's e encontrei vários "modelitos" retro muito originais e unissexo!É que o vintage está na moda e nada como ver o meu pequenino com trapinhos que me serviram em tempos!Neste momento já lavados, estão prontos a serem devidamente restaurados para que fiquem com um ar imaculado!
Estou também a organizar uma festinha de despedida com alguns amigos em Lisboa. Vai ser este fim-de-semana e vão estar presentes todas as minhas amigas de Coimbra com excepção da Patty que não tem vergonha na cara e se vai cortar!Má :(((!!!!
Vamos jantar ao Bairro Alto a um restaurante que a Susana G. conhece e diz ser muito bom!Fiz uma pesquisa rápida no Google e vem em destaque no roteiro Gay de Lisboa, isto recorda-me a minha despedida de solteira em Ibiza pelo que achei uma óptima ideia retomar o espírito Ibiziano! (ainda tenho que publicar um post sobre as aventuras na praia das Salinas ;))
Claro que, a pedido do Hélder Belzebu (que vai sorrir quando me vir pelas costas por não ter de me aturar), o jantar será servido apenas após o clássico Benfica - Sporting ou o único homem à mesa seria o Carlos, marido da Santos, que não gosta de "bola".
Vou também despedir-me de Lisboa (estou sempre a despedir-me de Lisboa...), da sua luz, das suas 7 colinas da minha casinha que agora raramente tenho oportunidade de visitar e da minha mana. Deixo tudo para trás para embarcar na grande aventura da maternidade fora de "portas" na terra do tio Sam.
Por ora apenas posso dizer que já tenho as turbinas ligadas pronta a descolar...esperam-me graus negativos, neve, lugares e pessoas para conhecer, espera-me um parto em inglês ("oh my GOD!!!"), um cantinho de estudante para viver, um jeep em segunda mão, o lago Michigan e muitas outras coisas que aqui irei escrever...e há ainda alguém que nos espera, a mim e ao António para uma nova vida a três :))))))!!!!!!

segunda-feira, janeiro 23, 2006

O pianista



















Enroscada numa mantinha de vison falso acompanho, pela enésima vez e já um tanto ou quanto entediada, os comentadores políticos sobre as presidenciais...um dejá vu das últimas semanas apenas com a nuance de haver já um vencedor...escuto ao longe as vozes exaltadas e devagarinho vou-me alheando dos porquês e das estatísticas e finalmente fecho os olhos...acordo novamente com um som de fundo melódico, emocional que me cativa e fico atenta. É o som de um piano magnificamente tocado por um vizinho talentoso. Desligo a T.V. e fico a ouvir encantada...há quanto tempo não sentia assim a música de um piano?Há muito, demasiado talvez...recordo o filme "O Pianista" e imagino o intérprete-mistério com a mesma carga emotiva. Ouvi-lo assim, do meu sofá, no silêncio e na penumbra da noite faz-me sentir privilegiada, como se tocasse só para mim numa enorme sala de concerto... outros dias há, em que os sons da rotina quotidiana de outros vizinhos me chegam também pelos canos e pelas paredes. Dividir um espaço na vertical tem destas vicissitudes e acabo por conhecer alguns hábitos de pessoas que não tento identificar, mas que estabelecem comigo rotinas sem o saberem. Já não estranho uma certa voz feminina a entrar-me pelo escritório a dentro a partir da meia-noite ou um latido fininho de um cão que imagino de pequeno porte...talvez um Pincher ou outro cão a pilhas desse género. O pianista faz parte desta rapsódia de sons da vida alheia que se tornam mais presentes quando vivemos sozinhos.

Às 27 semanas, e com o sistema auditivo totalmente formado, também o António recebe estímulos auditivos do exterior e a minha voz será um deles. Tem portanto inúmeros "vizinhos" através dos quais começa a conhecer o mundo porque também ele é um atento habitante solitário dentro de mim. Os sons que lhe faço chegar transmitem-lhe calma ou angústia, excitação ou relaxamento, já os sente sem saber de onde vêm e reage dando-me pequenos pontapés; não gosta por exemplo do secador de cabelo e demonstra-o sem qualquer problema.
Gostava que tivesse o seu próprio pianista mas infelizmente não sei tocar. Inspirada nesta ideia recolhi da minha colecção de clássicos algumas peças musicais e, enquanto componho este texto dou-lhe a conhecer o som de violinos, piano e flautas na esperança que também ele se encante pela musicalidade...porque há prazeres que se retiram da espontaneidade do momento, aproveita bébé, este é para ti!

sexta-feira, janeiro 20, 2006

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Assalto ao Frigorífico

Hoje de manhã tive consulta de obstetrícia. Levantei-me entusiasmada e preparei-me meticulosamente para o rendez-vous com a balança da maternidade. Esta balança é de uma precisão irrepreensível!!não deixa escapar a oscilação de gramas sendo por isso usada pelos médicos. Desenvolvi uma fobia à maldita máquina por saber o responso que apanho sempre que ouso por-lhe os pés em cima.
Tinha prometido na última consulta que não aumentaria muito de peso, que me iria comportar bem, mas intimamente sabia que isso seria de uma violência comparável às requintadas práticas de tortura dos inquisidores .
Teria, em defesa de uma dieta equilibrada e saudável para mim e para o António, de fazer um Natal Light, Diet sem direito a todas as iguarias maravilhosas que nos passam à frente durante pelo menos uma semana. Quando me comprometi a ser comedida estava até muito bem intencionada, mas o meu plano foi por água abaixo quando me propus a organizar a consoada em minha casa, tendo consequentemente enchido o frigorífico de coisas óptimas e calóricas.
Era um plano perfeito se seguido à risca: a única excepção permitida seria nos dias de Festa resumidos a 3 salvo os quais faria boicote às filhoses, coscoreis, chocolates e restantes doces e queijos que compunham o enorme "cabaz de Natal".Mas, devido à minha condição de simples humana, dia após dia fui perdendo a disciplina e a timidez com o frigorífico, primeiro de forma menos arrojada e com o pretexto de não estragar comida mas à medida que me ia deleitando com os sabores e cheiros que me entravam pela boca e nariz fui perdendo o pudor e acabei em actos de vandalismo descontrolado que nada têm em comum com a relação de Kim Basinger com a comida em "Nove semanas e meia".
E hoje ali estava para prestar contas tal réu em dia de julgamento. Vesti o meu vestido de malha mais leve, tipo película, substitui as pesadas botas de inverno por uns elegantes sapatinhos que devem pesar no máximo 300 gramas e se a médica me perguntasse o que teria a dizer em minha defesa apenas retorquiria pouco convicta - "o bébé deve ser ENORME e pesado como o pai meretíssima, isto é só barriga".
Lá me arrastei contrariada para cima da dita-cuja, despindo o casaco para me aliviar de mais uns kilos e...surpresa das surpresas... aumentei apenas meio kilo!A médica satisfeita ainda me disse que os americanos se iriam espantar com uma pré-mamã tão elegante!Sorri pensando "Quem disse que o crime não compensa?"

segunda-feira, janeiro 16, 2006

16

Após um mês e meio de abstinência decidi retornar à blogosfera e alhear-me das inúmeras pequenas tarefas quotidianas com que me ocupei nos últimos tempos. É perverso o comodismo das pequenas coisas úteis, se por um lado nos ocupam o tempo e a mente na preocupação de fazer o mais rápido e o melhor possível, por outro, desviam-nos a atenção das coisas que realmente apreciamos. Vemo-nos de repente embalados num rame-rame de inúmeros afazeres absolutamente aborrecidos mas inequivocamente essenciais para que o dia-a-dia flua de feição...podemos estar nisto anos, uma vida inteira sem que nos apercebamos de como fomos inteiramente desviados dos grandes e nobres planos para que fomos destinados neste mundo.
Foi o número 16 que me acordou deste "coma" consciente em que me tenho encontrado mergulhada.
As referências exteriores do Eu podem ser tão abstractas e simples como um algarismo mas suficientemente fortes para despertar uma espécie de reflexo de Pavlov no pensamento.
Hoje é o primeiro dezasseis do ano e por uma questão de superstição achei por bem visitar o gato psicopata com o pé direito..é que 16 é o meu número da sorte, aquele que meto nos boletins do totoloto e em que penso quando me fazem um truque de cartas. O magnetismo que o um e o seis juntos têm sobre mim vem do tempo em que, ainda criança, me queria emancipar. Considerava que quando ai chegasse sofreria a desejada metamorfose que me transformaria em mulher. O meu pai tentou em vão explicar-me que a emancipação vinha mais tarde ,com a conta bancária, mas na altura a mesada que recebia parecia-me património mais que suficiente para conquistar o mundo. A curiosidade era enorme e acabei por abandonar a minha amiga e confidente Tucha (antecessora da Barbie) para dedicar toda a minha atenção ao meu recém-estatuto de sweet sixteen. Lembro-me certo dia de, num acto de crueldade feminina, eu e uma amiga termos dito de outra que era feia feia!! ao que a minha mãe respondeu a rir que com 16 anos não existem meninas feias...e de facto tinha razão...
No dia 16 de Setembro de 1996 encontrei a minha cara-metade à qual, findos 9 anos de namoro disse SIM no dia 16 de Julho pelas 16 horas há precisamente 6 meses. Por essa razão quis vir aqui assinalar esta meia data para mim tão especial... o número foi apenas o pretexto ;)