quinta-feira, novembro 10, 2005

Espíritos elevados



Na passada semana tive a oportunidade de ver uma belíssima exposição de pintura de finais do século XIX e todo o século XX no Instituto de Arte de Chicago. Impressionismo, Expressionismo, Naturalismo, Modernismo, Dadaísmo, Cubismo, Surrealismo e os demais "ismos" das artes plásticas estavam magníficamente representados através das obras dos Mestres das referidas correntes. Fiquei surpreendida com a dimensão e importância deste espólio detido pelos americanos e vi-me diante de muitos dos quadros que conhecia tão bem dos livros de arte do meu pai e que sempre tive curiosidade de folhear. Saboreei então o mundo no último século e meio através dos olhos destes artistas...é como ter um binóculo mágico que nos permite olhar a história, o mundo e a vida com uma elevação que nos enriquece subitamente a alma e que nos alerta para as nossas próprias limitações. Todos eles foram pioneiros no seu tempo.Encontraram forma de expressar a sua humanidade e de projectar ideias e sentimentos em objectos figuras e paisagens que nos são familiares e que por isso compreendemos. Mesmo a bizarria do surrealismo parece-me bastante natural!É este o poder da arte, transmitir-nos mensagens de forma genial,com as quais nos identificamos sem que haja de facto uma lógica linear por detrás dessas construções.
Mas, o que é o mundo e a existência de vida senão a mais suprema das artes?A complexa teia de vidas orgânicas, de volumetrias, de emotividades, de acontecimentos, de tempo e espaço que nos circunda é de facto matéria - prima em bruto para esses olhos diferentes!
A criação do nosso próprio universo artístico, ainda que não sejamos iluminados como esses Senhores, é a garantia da nossa individualidade e da nossa dignidade enquanto seres "pensantes". O verdadeiro problema é conseguir ver para além do aborrecido, para além do nosso próprio umbigo.Falta de curiosidade acredito, e não tanto de capacidade...
Estou a ler o Diário de Anais Nin. O mundo aos olhos de uma mulher, escritora, poetisa e pioneira do seu tempo que se aventura no universo cru e rude de Henry Miller. O mesmo mundo, a mesma época, olhares diferentes...e ainda o meu, quase um século à frente e em muitas coisas atrás...

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