sábado, junho 10, 2006

O PARTO

Decorreu um mês e meio desde que o António nasceu. A aventura que começou na minha lua-de-mel na Ásia terminou no Women's Hospital da Northwestern University em Evanston. Depois de semanas de ansiedade e dois falsos alarmes que nos levaram ao Hospital na certeza que seria dessa, tinha começado a pensar que iria ficar grávida para sempre! Cheguei a dizê-lo com convicção à enfermeira que me assegurou que tal não iria acontecer e de facto, após 40 semanas e 5 dias de gestação, a espera acabou.
Às 18h do dia 26 de Abril entrei em trabalho de parto sem saber, e, julgando ser mais uma barraca para me embaraçar junto do staff do Hospital, decidi ignorar e continuar a descascar batatas para o jantar dessa noite. As dores que sentia não eram fortes e pareciam-se com as que mensalmente me incomodam por uns dias mas que resolvo facilmente com um Buscopan. Desconfiada porém, nessa noite comi muito não fosse passar fome durante as longas horas de espera típicas do último dia de gravidez. Depois de uma ida à WC finalmente as dúvidas começaram a dissipar-se. Visivelmente nervoso o Pinguim telefonou para o médico explicando-lhe os sintomas e este prontamente respondeu "it sounds labor to me!".
Foi hora de voltar a meter as malas no carro e seguir viagem com um sorriso colado à cara!Entrei calmamente a pé na maternidade e fui submetida a vários exames que serviram para confirmar o meu estado através da dilatação do cervix e verificar os sinais vitais do bebé. As dores iam aumentando de intensidade mas estava decidida a aguentar o mais que pudesse antes de recorrer ao último achado da medicina, pelo menos aos meus olhos nessa noite, chamado de Anestesia Epidural.
Cedi aos 4,5 cm de dilatação.
Antes disso tinham-me aconselhado a andar porque aceleraria o processo e a volta de uma fonte em circulos tal e qual uma maluquinha do Julio de Matos, decidida a cumprir a minha missao o melhor que sabia dei o meu passeio higienico. Senti-me de repente como a propria fonte a jorrar agua e isso queria dizer que o passeio tinha acabado.
O trabalho de parto decorrera de forma normal ate ai mas a cor do liquido amniotico inverteria o rumo dos acontecimentos nessa longa noite. A medica observara-me mais uma vez e concluira que a tonalidade verde se devia a perda de meconio por possivel sofrimento do Antonio...poderia ser o cordao umbilical a volta do pescoco. Fiquei um pouco assustada...ja ouvira muitas historias acerca de cordoes e nenhumas delas tinha desfecho facil. Queria expressar-me, fazer queixinhas para ouvir um - it's OK everything is going to be fine!- mas nem isso conseguia, so pensava no bebe e no que se passaria dentro de mim. Felizmente o Dr. Nelson, o meu obstetra que tinha o condao de me transmitir paz e serenidade tinha chegado. Explicou-me que para que o Antonio nao sofresse iriam tentar apressar o trabalho de parto e se isso nao resultasse seguiriamos para Cesariana. Senti um misto de frustacao com medo...ja tinha pensado em cesarianas mas como uma coisa que so acontece as outras e que contra todas as expectativas iria tambem experienciar .Os testes de stress revelaram que o bebe nao estava confortavel e isso foi suficiente para desmistificar essa grande palavra na minha cabeca. No bloco operatorio leram-me os "direitos"ou seja, consciencializaram-me em ingles de medico de que tal como em qualquer cirurgia haveria riscos inerentes a mesma e fizeram-me assinar um papel de consentimento. No momento seguinte sentia a minha barriga a ser revolvida, uma sensacao horrivel como se tivesse a ser expropriada do meu proprio corpo.Agarrei-me ao Pinguim ja a meu lado que me tentou acalmar...olhei p o lado para o berco que haveria de receber o Antonio, em acrilico transparente a receber a luz branca das luzes da sala...as luzes que reflectiam no vidro a minha barriga aberta e vi sem querer o meu corpo por dentro...julguei-me por momentos envolvida numa cena de laboratorio CSI e sorri com a estupidez daquele pensamento...
De repente um choro forte seguido depois do meu, baixinho, feliz...
Seguiram-se momentos de agitacao, o pinguim excitadissimo com o nosso filhote nos bracos, o primeiro banhinho, as fotos e eu ainda prostrada na maca sem conseguir mexer-me ansiosa por te-lo so para mim. Mais tarde no quarto com ele nos bracos percebi finalmente o que era amor de mae.